Eu quero mais alma Em tudo que faço Em cada gesto Cada ato Quero ignorância Que redime os erros Quero menos culpa Menos medo Libertar-me do eu Que de mim me afasta Quero ser sem pudores Sem falácias Eu quero verdade Que por si me basta Quero mais de mim Menos não, mais sim Mais alma.
Estou inerte Presa ao passado Lembrando o seu Sorriso magnético Ao qual sucumbiu Tolo o meu olhar Eu me perdi de mim Desapego concreto Não quero mais amor Não quero lágrimas Somente algumas Promessas esquecidas Para assim esperar Sem ânsia, sem pressa Que o solstício ilumine Essa vida sintética.
Esta é a palavra certa Para dizer o incerto Minha imprecisão Este é o momento certo Para pensar no sim E dizer um não Quero fazer ao revés Do que penso Já que não tenho sorte Se sigo a razão Quero sentir ao avesso Sentir minha culpa Sem buscar perdão Quero tudo do nada Felicidade malograda E os pés saindo do chão.
Permanece feito brilho De um sorriso em meus olhos Sua imagem forte, nítida Mesmo que desejo utópico Guarda-me em lugar seguro Do coração que flameja Que almeja amor futuro E desdenha o que o espreita Oferece qual semente Que se entrega ao solo fértil Um amor que é forte e débil Pois só morrendo renasce E por ser livre pode entregar-se Como cativo ao coração.
Escutei o sol raiando Ou eram pássaros No labirinto de minha mente Um sol guardado Para que só eu o ouvisse E vê-lo nunca Feito desejo irrevelado Que dentro pulsa No coração multicolor De cores lânguidas De dúbias vontades, criador Impuras, cândidas Guardei meu sol em urna mística Fundida em aço Impenetrável coração Dilacerado.
Abandono-me nos seus infernos Nas suas dúvidas, nos seus medos Talvez assim eu lhe encontre E me encontre ao seu lado Talvez assim eu reviva Os sentidos dormentes Pensamentos dementes Que bem podem sanar-me Da anti-vida oxidante Que corrói o que me resta De humano.
E me incomodei tanto Sofri tanto Para no fim descobrir Que não ligo Que o obstáculo Por mim suplantado Rendeu pouco regozijo Nas vértebras da memória Atrofiam-se um a um Apagando por fim a chama Necessária para sobrevivência Dessa carne fria que renega Sua verdadeira condição E submete-se à ilusão De dizer-se ainda viva Mesmo já dissecada Sobre a mesa da apatia.
Eu queria ter tempo Todo tempo do mundo Só para jogar fora Para desperdiçar E que passasse lento O meu tempo de ócio Todos os despropósitos Nos quais me vi atar Vou quebrar o relógio Vou desfazer o laço Descravar os ponteiros De minha pele de aço Deixarei para o músculo De batidas perfeitas A cronologia honesta À qual quero estar sujeita.
Forjei lindas palavras De beleza insana Equivoquei sentidos Mesclei versos in vitro De forma leviana Tentando esquecer-me De vícios e verdades Parti-me em metades Refiz-me sem pudores Guardei só a essência O resto está no lixo.