sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Anti-Amor


Amar-te é me anular
Meu oposto total
Eu sou um
Você é um
Juntos somos zero
Eu existo
Você existe
Juntos inexistimos
Separados somos tudo
Juntos somos nada
Nada absoluto
Nosso amor é pleroma.

(Mariana Ribeiro)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Espelho


Com ar abatido
Meu corpo patético
Humor diatônico
E olhar perplexo
Na boca, um grito
Enquanto observo
Um nada, um vazio
Meu reflexo.

(Mariana Ribeiro)

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Jimmy Page


Algo me acomete
Ao solar de teus acordes
Meu corpo se entorpece
Ambíguas emoções
Inexplicável saudade
Do que sequer existiu
Um arrepio
Uma dor
Um vazio
Uma lágrima.

(Mariana Ribeiro)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Só Hoje


Cansei do tíbio, do mais ou menos
Do moderado, In medio virtus
Quero os extremos e o excêntrico
Extravasar-me
Quero queimar-me
Seja no fogo, seja no gelo.

(Mariana Ribeiro)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Floralis generica


Ele me ofereceu
Uma flor de presente
Flor lunática
Metálica
Artificial
Era linda, vistosa
Mas como nosso amor
Era falsa, genérica
Inanimada flor.

(Mariana Ribeiro)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Anjos de Ceschiatti


Anjos de Ceschiatti
Pairam sobre minha cabeça
Suspensos por cabos de aço
Dentro do meu interior oco
Ainda ouço estilhaços
Ecos do coração que se partiu
Rogo que ouçam meus lamentos
Mas não se apiedam
Por minhas lágrimas de areia
Na catedral silêncio
Engulo o deserto a seco
Anjos de alumínio fundido
Não podem dizer amém.

(Mariana Ribeiro)

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Eu quero


Eu quero um pouco de água fresca
Para poder lavar minha alma
Que queima e teima
Em errar
Eu quero dois olhos bem grandes
Para mantê-los fechados
A me vigiar
Eu quero um bedel corrupto
De minha consciência
Eu quero um erro bem grave
Uma condenação que não tarde
Mas falhe
E me liberte de mim.

(Mariana Ribeiro)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Bolas e Balas


Ali sozinho na areia do parquinho abandonado, ele brinca com sua bola imaginária. Descalço, corre como a se desviar de adversários, mira num ponto e chuta a areia molhada, segue o olhar numa curva e olha para o canto perto da calçada, abre um sorriso gostoso e os braços como para um abraço apertado que se dá em quem há tempos não se vê, sai correndo e gritando “Goooooool!”.
Fez da situação tão verdadeira, que eu juraria ter visto a bola imaginária na sua curva impecável entrando no ângulo. Gol de fazer inveja em Kakás e Robinhos.
De minha boca foge um sorriso, com uma tranqüilidade repentina termino de atravessar a rua e sigo meu caminho.
Crianças me fazem sentir paz, igual à paz que esse menino me passou em poucos segundos de observação, paz que sente pois provavelmente não se preocupa - já que desconhece - com a morte de um menino ontem, naquele mesmo parquinho abandonado, vítima de uma bala perdida.

(Mariana Ribeiro)

domingo, 16 de dezembro de 2007

Moeda Chinesa


Para que eu quero
Essa moeda chinesa?
Não acredito em sorte
E ela nem é bonita
Para que eu quero
Essa moeda chinesa?
Mais um estorvo
Na minha vida
Olha eu de novo
Aqui divagando
Para fugir da realidade
Guardo a moeda no bolso
Retorno à mediocridade.

(Mariana Ribeiro)

sábado, 15 de dezembro de 2007

Desafio


Dia após dia apático
Estóico coração
És tolo? Covarde ou quê?
Reaja! Se é que estás vivo
Sofrer não é fraqueza
Senão humildade
Liberta-te dessa armadura
Que igual a ti definha
Que uma vida sem emoções
Indigna é de chamar-se vida.

(Mariana Ribeiro)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Inexplicável


Figura inerte,
Vejo nos teus olhos
Desbotados pelo tempo
Intenso brilho de paixão.
De paixões
Por uma pessoa,
Por uma causa,
Pela vida em si.
Eu vejo, e sinto,
E sei
De alguma forma
Conhecer-te tão bem,
Desconhecido do retrato.

(Mariana Ribeiro)