Abandono-me nos seus infernos Nas suas dúvidas, nos seus medos Talvez assim eu lhe encontre E me encontre ao seu lado Talvez assim eu reviva Os sentidos dormentes Pensamentos dementes Que bem podem sanar-me Da anti-vida oxidante Que corrói o que me resta De humano.
E me incomodei tanto Sofri tanto Para no fim descobrir Que não ligo Que o obstáculo Por mim suplantado Rendeu pouco regozijo Nas vértebras da memória Atrofiam-se um a um Apagando por fim a chama Necessária para sobrevivência Dessa carne fria que renega Sua verdadeira condição E submete-se à ilusão De dizer-se ainda viva Mesmo já dissecada Sobre a mesa da apatia.
Eu queria ter tempo Todo tempo do mundo Só para jogar fora Para desperdiçar E que passasse lento O meu tempo de ócio Todos os despropósitos Nos quais me vi atar Vou quebrar o relógio Vou desfazer o laço Descravar os ponteiros De minha pele de aço Deixarei para o músculo De batidas perfeitas A cronologia honesta À qual quero estar sujeita.
Forjei lindas palavras De beleza insana Equivoquei sentidos Mesclei versos in vitro De forma leviana Tentando esquecer-me De vícios e verdades Parti-me em metades Refiz-me sem pudores Guardei só a essência O resto está no lixo.